FINAL SHOW BYAM SHAW OF ART 1998
Algumas palavras sobre abstração, realismo e representação.
A idéia dos trabalhos apresentados nesta exposição vieram de uma janela que vi e fotografei na Espanha no verão de 1998. Essa janela havia sido espontaneamente cobertas de tinta para que ninguém pudesse olhar através dela. Isso lhe conferiu uma qualidade ao mesmo tempo bela e estranha, pois pareciam mais a pintura de uma janela: o vidro assumia um aspecto material da superfície de uma pintura, enquanto as barras de vidro pareciam linhas desenhadas. Esse trocadilho visual me fez pensar, não sem um certo humor, na condição muito discutida da crítica à pintura como janela ou espelho do mundo. Isso me incitou a coletar janelas reais outros objetos comuns, tentando infundir-lhes um caráter pictórico (fosse pintando em sua superfície, fosse cortando-os e rearranjando-os de forma distinta.
Concomitantemente, construí telas que se assemelhavam às estruturas encontradas, em uma tentativa de conferir-lhes uma espécie de concretude. O que buscava era que, ao fim, todos os trabalhos presentes na mostra oscilassem entre algo representado e a coisa em si. Essas ambiguidades entre ilusão e objetividade remetem a questões sobre o que constitui a linguagem da pintura: desejava que todas as obras se imbuíssem do que poderia ser chamado de "materialidade pictórica", dado não apenas pelo fato de que alguns são objetos pintados, mas também pela tinta utilizada e pela maneira como é aplicada. São superfícies criadas por diferentes materiais, suportes, tintas, marcas de pincel. Essa materialidade - o corpo que envolve a pintura - é muito importante para mim, uma vez que acredito que o poder da pintura deve residir na criação de uma experiência que não deve ser apenas articulada na linguagem.